Lá estavavamos novamente, sofrendo com o sol da tarde (peguei um bronze legal), horas no mesmo lugar, sem esperancas de carona: pelo segundo dia consecutivo, estavamos em um lugar aonde a probabilidade de carona estava perto do zero...
Antes de narrar aonde estavamos ou como chegamos lá, gostaria de iniciar o post com dicas basicas e consideracoes caroneiras, adquiridas em um intensivo aprendizado nesses dois ultimos dias. Em caso de seja lá quem estiver lendo isso aqui resolva sair em direcao a Argentina também:
As "Dicas":
#1: Placas dão credibilidade
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Como nao escrever uma placa, ao pedir carona |
De certa forma, eventualmente elas te atrapalham, pois muitas vezes a pessoa te daria carona mas esta indo pra algum outro lugar (o que por sinal te seria util tambem, leia dica #5 ). Mas mesmo assim, elas dão uma certa credibilidade, o motorista ve o papel (o qual provavelmente não vai conseguir ler), e percebe que realmente queres carona e es um viajante, e não estas so querendo subir no carro para ser estuprado, ou vice-versa...
#2: Sim, chove na estrada.
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Típica imagem vista por quem vai se foder pedindo carona... |
Capa de chuva é importante (repeti isso pra mim mesmo durante uns bons minutos de estrada). E por mais que pareca dramático no momento, tu segurares uma placa (leia dica #3) no meio da chuva, tremendo de frio, com uma cara triste, de baixo de um temporal da porra, ninguem gosta de duas pessoas com umas puta mochila molhando o seu carro.
#3: Papel geralmente nao e a prova d`agua!
Sim, se estiveres usando folhas, elas molham, e rasgam, e nao fica nada facil ler o que ta escrito dessa forma, use papelao ou um plastico nesses casos (nao que os motoristas se importem com isso, ninguem consegue ler a placa mesmo.)
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Como eu disse, geralmente papel nao é a prova dágua |
#4: Senso de direcao e tudo
Certifique-se de que voce esta pedindo carona pro lugar certo (animal!), ou as pessoas realmente vao rir da tua placa (a qual elas nao conseguem ler). Se a cidade destino é para um lado, lembre-se de pedir do lado direito da estrada, na direcao da cidade.
#5: Qualquer negocio é negocio!
Aceite pequenas caronas, desde que seja na direcao certa (leia #4). (Saindo um pouco da rota talvez seja bom tambem, usa a o bom senso!) Elas vão te dar uma nova perspectiva e talvez aprendas alguma coisa nesse novo lugar.
#6 Toalhas!
Leve toalhas! Isso pode parecer muito Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, mas comprovei nesses dois dias que ela pode ser usada como guarda-sol, travesseiro, cobertor, viseira e, eventualmente, como uma toalha (achar um chuveiro localizado no meio da estrada é tao lindo quanto achar agua no deserto). Ou seja, sem minha toalha, eu estaria (mais) queimado do sol, mal dormido e sujo.
#7 Saiba a geografia do local
Ok, pode parecer meio basica. Mas saber qual trevo e o certo pra ir pra determinada cidade me pouparia algumas horas de inutilidade pedindo carona pra cidades que nao eram pro lado que eu tava. Alem disso, houve um momento no qual seguravamos uma placa dizendo Salto, na Argentina, enquanto Salto e uma cidade do Uruguay (Nao sei se eu deveria contar isso, e meio vergonhoso...)
A indiada
O ideal geral da viagem a qual me encontro nesse momento, é chegar no Chile, passando pela Argentina, especificamente Cordoba e Mendoza (as cidades no caso). A locomocão é feita por caronas o máximo possível, e em dois dias, esse aspecto da locomocao já me rendeu uma bela indiada.
Consideracao #1 - Se estiveres indo pra Uruguaiana, NAO tenta pegar carona em Bagé, ninguém, repito, NINGUÉM, passa por Bagé pra ir pra Uruguaiana.
Descobri isso da pior maneira possível, ficando cerca de cinco horas na estrada, até o Fernando achar 50 reais na beira da estrada (Consideracao #2 As pessoas conseguem perder 50 reais no meio de uma estrada). Entao decidimos usar aquele dinheiro pra ir até a próxima cidade. Foi quando estávamos desistindo que apareceu uma carona que nos levou até a próxima cidade (Dica #5), e logo que chegamos na outra cidade, prontamente outro carro parou e nos levou até a próxima. Ou seja, todo o azar que tivemos durante 5 horas, converteu-se em sorte por cerca de 2 horas.
Consideracao #3 - Caminhoneiros também ouvem Pussycat Dolls e Backstreet Boys.
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Foto tirada ao som de Backstreet Boys |
No final, chegamos em Uruguaiana gastando somente 15 Reais. Consideracao #4 - NUNCA DURMAM NA RODOVIARIA DE URUGUAIANA. (Lá é permitido dormir nos bancos, mas nao pode se inclinar muito, ou tirar os pés do chao, senao o guarda vem e fala pra te inclinares menos. VERDADE)
Achávamos que Bagé tinha sido um dead end, mas viríamos a descobrir que o 1o. dia tinha sido maravilhoso, em comparacao.
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Nascer-do-sol visto da ponte |
Acordamos ao amanhecer para atravessar a ponte, estávamos na fronteira exatamente durante o nascer-do-sol.
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Travessia da fronteira |
O plano geral pra esse momento era pedir carona pros caminhoneiros que entravam no País e eram obrigados a parar lá por um tempo.
Consideracao #5 - Nao é fácil achar caminhoneiros pra se pedir carona na aduana. E tampouco eles sabem dar informacoes direito.
Com o insucesso do plano A, tivemos que seguir pela estrada, e cerca de 5 kms e uma carona na pick-up de um argentino depois, chegamos em um posto aonde, supostamente, os caminhoneiros paravam pra almocar. Seria muito bom, se nao fosse proibido pedir carona no posto!
Eu nao lembro quem foi a pessoa da aduana que deu a informacao do posto, mas odeio ele intensamente. Aquele trecho da estrada no qual se localizava o posto foi meu lar por 6 horas, enquanto ficávamos na beira da estrada pedindo carona pros carros que iam na direcao que queríamos.
Consideracao #6 - Argentinos nao sabem o que é carona, ou o símbolo da carona. Eles insistiam vigorosamente em abanar ou fazer sinal de positivo toda vez que passavam por nós, com os dedoes levantados, provavelmente falando ''Olha que gentis aqueles dois jovens, segurando placas, com mochiloes, na beira da estrada, com o dedao levantado, vamos abanar!''
É aí que voltamos ao parágrafo com o qual comecei o post. Nao tenho nada pra comentar sobre as horas que passamos naquela estrada, cada vez menos perdendo a esperanca de seguir adiante (a nao ser o fato de que conhecemos tao bem aquele trecho que já sabíamos dar informacao sobre a estrada, o que de fato fizemos!).
A questao é que certas vezes, quando nao se pode ir em frente, deve-se voltar um pouco e tentar outro caminho, outra forma: estávamos decididos a nao dormir naquele trecho infernal da estrada, aonde ninguém sabia o que era carona. Entao decidimos pedir carona ao contrário (sim, esquecam a Dica #4, ela nao serve nesse caso), de volta a Paso de Los Libres, e entao, uma vez na civilizacao, achar outro meio de transporte, mas como ninguém sabe o que diabos é uma carona na Argentina, daria no mesmo.
Por sorte havia um posto do outro lado da estrada, aonde, como estupidamente demoramos a descobrir, podia se pedir carona, a qual nao demoramos nem 5 minutos a conseguir (infelizmente pro lado contrário), em direcao a Paso de los libres, aonde poderíamos pegar um onibus pra Cordoba, desolados pelo fato de argentinos nao saberem o que sao pessoas pedindo carona.
Agora escrevo de Cordoba, e sinceramente, por mais que as várias horas sem esperanca sob o sol tenham sido como foram (aliás, resolvi tentar nao escrever muito sobre elas no post pra nao ficar muito dramático o post, pois foi foda!), cinco caronas diferentes depois, tenho uma Consideracao Final: eu faria todas as decisoes erradas e viveria as horas tensas de novo. Basearia minhas horas de sono em bancos de rodoviária, caminhoes, carros de estranhos, chao de posto, árvores de estrada, tudo novamente... Afinal, o cansaco passa, o torcicolo passa, um banho cura o que o sol trouxe, e no final, o que sobra é algo como um sentimento de orgulho, de mesmo tendo feito tudo da maneira mais difícil, ter conseguido chegar aonde deveria.
Problemas de pontuacao devido ao teclado argentino devem ser ignorados. =*