terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Hay empanada? Cordoba e o português indecifrável

*Na principal rua de bares de Cordoba, em um pub escocês*

- Mani? ¿Como se llama mani?
- ? - Indaguei eu, silenciosamente.
- En Inglés.
- Peanut. - Respondi meio confuso, vendo o atendente do pub sair bradando ``PEANUUUT`` pros colegas de trabalho dele.


Até onde eu tinha percebido, eu tava conversando em alto e bom portuguës com o Fernando, o que me deixou bem confuso. Mais tarde vim a perceber que todos, repito, TODOS, acham que eu falo russo, sueco, ou qualquer outra lingua exótica à América do Sul, o que de certa forma é interessante, pois posso me passar por morador de qualquer país (nao que eu o tenha feito), mas no final sempre acabo dizendo que sou brasileiro, o que costuma incitar algo como ``BRASIIIIILLLLLLL´´, seguidos de uma danca estranha (tenho que ensinar essas pessoas a dancar...).
Duas vezes em um dia, vieram pessoas falando em ingles comigo, e no que eu respondia em portuñol, se assustavam que eu conseguia me comunicar, afinal, há 30 segundos atrás eu estava falando uma língua tao longínqua. Incrível como nossa mente é tao aberta pro espanhol, e isso nao ocorre de forma alguma do lado contrário.

Córdoba:

CIVILIZAÇAAAAO(porra, eu nunca vou achar o til nesses teclados...)OOOOOOOOO!
Os aspectos iniciais mais importantes pra mim foram que a cidade nao é uma estrada, tem sombras, e contém meios de locomoçao alternativos à carona, os carros passam por ti a menos de 100 km/h, tem albergues com camas (primeira vez que eu dormi horizontalmente na viagem), e é claro, o fato de eu conseguir me comunicar com pessoas na rua falando com elas, nao por meio de sinais enquanto elas passam a 100 km/h por ti.

Isso dito, tudo que eu tenho a considerar sobre a beleza dos prédios e da cidade talvez eu consiga ilustrar um pouco em fotos. A cidade é em seu todo, extremamente agradável, desde os prédios, as ruas cheias de árvores, muitas em um estilo antigo (as ruas, nao as árvores), até o povo (desconfio muito que, usando as palavras de um amigo, houve algo como uma experimentaçao genética naquela cidade, pois nunca vi uma porcentagem tao alta de pessoas brutalmente lindas, e extremamente gentis (especialmente as que viam falar com a gente "Hello!", após ouvir o nosso maravilhoso russo).

Segue adiante algumas fotos da cidade (clicar para ampliar, acho...):








Isso é um shopping. oO


Vista do terraco do albergue




Essa rua é muito foda.



Sim, eu gosto de tirar fotos no entardecer...

Aspecto interessante sobre a cidade:

Eles fecham o comércio das 12h as 17hs pra ficar dormindo aqui em Mendoza (cidade na qual eu escrevo isso), e reabrem até as 21hs, algo como um horário de céstia, isso fez com que eu ficasse devendo aqui na lan house, pois nao tinha como trocar meus reais por pesos, com todos os cambios fechados. (Y)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

De dedão pelos pampas

Lá estavavamos novamente, sofrendo com o sol da tarde (peguei um bronze legal), horas no mesmo lugar, sem esperancas de carona: pelo segundo dia consecutivo, estavamos em um lugar aonde a probabilidade de carona estava perto do zero...

Antes de narrar aonde estavamos ou como chegamos lá, gostaria de iniciar o post com dicas basicas e consideracoes caroneiras, adquiridas em um intensivo aprendizado nesses dois ultimos dias. Em caso de seja lá quem estiver lendo isso aqui resolva sair em direcao a Argentina também:

As "Dicas": 

 #1: Placas dão credibilidade


Como nao escrever uma placa, ao pedir carona

De certa forma, eventualmente elas te atrapalham, pois muitas vezes a pessoa te daria carona mas esta indo pra algum outro lugar (o que por sinal te seria util tambem, leia dica #5 ). Mas mesmo assim, elas dão uma certa credibilidade, o motorista ve o papel (o qual provavelmente não vai conseguir ler), e percebe que realmente queres carona e es um viajante, e não estas so querendo subir no carro para ser estuprado, ou vice-versa...

#2: Sim, chove na estrada.

Típica imagem vista por quem vai se foder pedindo carona...
Capa de chuva é importante (repeti isso pra mim mesmo durante uns bons minutos de estrada). E por mais que pareca dramático no momento, tu segurares uma placa (leia dica #3) no meio da chuva, tremendo de frio, com uma cara triste, de baixo de um temporal da porra, ninguem gosta de duas pessoas com umas puta mochila molhando o seu carro.

#3: Papel geralmente nao e a prova d`agua!

Sim, se estiveres usando folhas, elas molham, e rasgam, e nao fica nada facil ler o que ta escrito dessa forma, use papelao ou um plastico nesses casos (nao que os motoristas se importem com isso, ninguem consegue ler a placa mesmo.)


Como eu disse, geralmente papel nao é a prova dágua

#4: Senso de direcao e tudo

Certifique-se de que voce esta pedindo carona pro lugar certo (animal!), ou as pessoas realmente vao rir da tua placa (a qual elas nao conseguem ler). Se a cidade destino é para um lado, lembre-se de pedir do lado direito da estrada, na direcao da cidade.

#5: Qualquer negocio é negocio!

Aceite pequenas caronas, desde que seja na direcao certa (leia #4). (Saindo um pouco da rota talvez seja bom tambem, usa a o bom senso!) Elas vão te dar uma nova perspectiva e talvez aprendas alguma coisa nesse novo lugar. 

#6 Toalhas!

Leve toalhas! Isso pode parecer muito Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, mas comprovei nesses dois dias que ela pode ser usada como guarda-sol, travesseiro, cobertor, viseira e, eventualmente, como uma toalha (achar um chuveiro localizado no meio da estrada é tao lindo quanto achar agua no deserto). Ou seja, sem minha toalha, eu estaria (mais) queimado do sol, mal dormido e sujo.

#7 Saiba a geografia do local

Ok, pode parecer meio basica. Mas saber qual trevo e o certo pra ir pra determinada cidade me pouparia algumas horas de inutilidade pedindo carona pra cidades que nao eram pro lado que eu tava. Alem disso, houve um momento no qual seguravamos uma placa dizendo Salto, na Argentina, enquanto Salto e uma cidade do Uruguay (Nao sei se eu deveria contar isso, e meio vergonhoso...) 

A indiada

O ideal geral da viagem a qual me encontro nesse momento, é chegar no Chile, passando pela Argentina, especificamente Cordoba e Mendoza (as cidades no caso). A locomocão é feita por caronas o máximo possível, e em dois dias, esse aspecto da locomocao já me rendeu uma bela indiada.

Consideracao #1 - Se estiveres indo pra Uruguaiana, NAO tenta pegar carona em Bagé, ninguém, repito, NINGUÉM, passa por Bagé pra ir pra Uruguaiana.

Descobri isso da pior maneira possível, ficando cerca de cinco horas na estrada, até o Fernando achar 50 reais na beira da estrada (Consideracao #2 As pessoas conseguem perder 50 reais no meio de uma estrada). Entao decidimos usar aquele dinheiro pra ir até a próxima cidade. Foi quando estávamos desistindo que apareceu uma carona que nos levou até a próxima cidade (Dica #5), e logo que chegamos na outra cidade, prontamente outro carro parou e nos levou até a próxima. Ou seja, todo o azar que tivemos durante 5 horas, converteu-se em sorte por cerca de 2 horas.

Consideracao #3 - Caminhoneiros também ouvem Pussycat Dolls e Backstreet Boys.

Foto tirada ao som de Backstreet Boys
No final, chegamos em Uruguaiana gastando somente 15 Reais. Consideracao #4 - NUNCA DURMAM NA RODOVIARIA DE URUGUAIANA. (Lá é permitido dormir nos bancos, mas nao pode se inclinar muito, ou tirar os pés do chao, senao o guarda vem e fala pra te inclinares menos. VERDADE)

Achávamos que Bagé tinha sido um dead end, mas viríamos a descobrir que o 1o. dia tinha sido maravilhoso, em comparacao.

Nascer-do-sol visto da ponte
Acordamos ao amanhecer para atravessar a ponte, estávamos na fronteira exatamente durante o nascer-do-sol.
Travessia da fronteira

O plano geral pra esse momento era pedir carona pros caminhoneiros que entravam no País e eram obrigados a parar lá por um tempo.

Consideracao #5 - Nao é fácil achar caminhoneiros pra se pedir carona na aduana. E tampouco eles sabem dar informacoes direito.

Com o insucesso do plano A, tivemos que seguir pela estrada, e cerca de 5 kms e uma carona na pick-up de um argentino depois, chegamos em um posto aonde, supostamente, os caminhoneiros paravam pra almocar. Seria muito bom, se nao fosse proibido pedir carona no posto!

Eu nao lembro quem foi a pessoa da aduana que deu a informacao do posto, mas odeio ele intensamente. Aquele trecho da estrada no qual se localizava o posto foi meu lar por 6 horas, enquanto ficávamos na beira da estrada pedindo carona pros carros que iam na direcao que queríamos.

Consideracao #6 - Argentinos nao sabem o que é carona, ou o símbolo da carona. Eles insistiam vigorosamente em abanar ou fazer sinal de positivo toda vez que passavam por nós, com os dedoes levantados, provavelmente falando ''Olha que gentis aqueles dois jovens, segurando placas, com mochiloes, na beira da estrada, com o dedao levantado, vamos abanar!''

É aí que voltamos ao parágrafo com o qual comecei o post. Nao tenho nada pra comentar sobre as horas que passamos naquela estrada, cada vez menos perdendo a esperanca de seguir adiante (a nao ser o fato de que conhecemos tao bem aquele trecho que já sabíamos dar informacao sobre a estrada, o que de fato fizemos!).

A questao é que certas vezes, quando nao se pode ir em frente, deve-se voltar um pouco e tentar outro caminho, outra forma: estávamos decididos a nao dormir naquele trecho infernal da estrada, aonde ninguém sabia o que era carona. Entao decidimos pedir carona ao contrário (sim, esquecam a Dica #4, ela nao serve nesse caso), de volta a Paso de Los Libres, e entao, uma vez na civilizacao, achar outro meio de transporte, mas como ninguém sabe o que diabos é uma carona na Argentina, daria no mesmo.

Por sorte havia um posto do outro lado da estrada, aonde, como estupidamente demoramos a descobrir, podia se pedir carona, a qual nao demoramos nem 5 minutos a conseguir (infelizmente pro lado contrário), em direcao a Paso de los libres, aonde poderíamos pegar um onibus pra Cordoba, desolados pelo fato de argentinos nao saberem o que sao pessoas pedindo carona.

Agora escrevo de Cordoba, e sinceramente, por mais que as várias horas sem esperanca sob o sol tenham sido como foram (aliás, resolvi tentar nao escrever muito sobre elas no post pra nao ficar muito dramático o post, pois foi foda!), cinco caronas diferentes depois, tenho uma Consideracao Final: eu faria todas as decisoes erradas e viveria as horas tensas de novo. Basearia minhas horas de sono em bancos de rodoviária, caminhoes, carros de estranhos, chao de posto, árvores de estrada, tudo novamente... Afinal, o cansaco passa, o torcicolo passa, um banho cura o que o sol trouxe, e no final, o que sobra é algo como um sentimento de orgulho, de mesmo tendo feito tudo da maneira mais difícil, ter conseguido chegar aonde deveria.

Problemas de pontuacao devido ao teclado argentino devem ser ignorados. =*

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Onde (talvez) tudo começa

Eis que agora faço o que deveria ter feito há muito tempo, julgando o que já passei e provavelmente não terei a precisão pra narrar. Como provavelmente se nota, ou ao menos se supõe, não escreverei pensamentos bonitos em forma de prosa (mesmo que provavelmente eu fosse capaz disso), tão pouco narrarei acontecimentos do meu dia-a-dia (os quais, devo dizer, poderiam entreter da mesma forma. Vida insana...), mas sim minhas viagens e seus respectivos aprendizados, de uma forma crua, direta e sincera (salvo detalhes sórdidos).

Não começarei contando minha primeira grande viagem, a qual já está narrada em outro blog, nem minha segunda (durante a qual eu tava ocupado demais vivenciando pra conseguir escrever algo *burro*), mas contarei do lugar no qual meu corpo me contou pra que ele realmente foi feito, lugar o qual eu aprendi o real sentido de viajar: Montevideo.

Minha primeira vez lá foi em um mochilão no qual eu passei por Buenos Aires antes, e só fiquei cerca de dois dias lá, passei como eu nunca deveria ter passado por qualquer cidade na minha vida: despercebido.

Na segunda, na qual passei um final de semana, aprendi o real sentido de estar viajando...

O comum de nós, em viagens, é andarmos pelas ruas, provavelmente falando nossa própria língua (salvo comunicações em forma de mímicas e murmúrios em algo como uma mistura de línguas, como se a outra pessoa fosse capaz de entender se falássemos mais alto ou de maneiras diferentes), visitando museus, prédios, praças ou qualquer outro ponto indicado por um número ou letra no mapa turístico especialmente direcionado pra ti. Dessa forma, passamos reto por algo mais complexo, mais intenso e provavelmente mais surpreendente do que cada um dos prédios os quais nos rodeiam, o povo. Cada pessoa que passa por nós, (em passos apressados de quem está pouco se fodendo pros prédios), enquanto olhamos atônitos o que nos é novo, é completamente diferente da pessoa que passará a seguir, mas muito provavelmente, semelhantemente entre eles, sejam MUITO mais diferentes de ti.

(“People travel to faraway places to watch, in fascination, the kind of people they ignore at home.” – Dagobert D. Runes)

Conto aqui, então, não o quanto eu me maravilhei com as construções, povo ou festas (o que de fato aconteceu), e sim a história de um aprendizado noturno, e como ele veio a acontecer.

Começo em uma noite (tudo acontece de noite) de algum mês (nunca me importei com datas mesmo, agradeçam que eu saiba que era 2010), estava eu sentado no terraço do albergue com três amigos com os quais eu estava viajando, virando alguns shots de tequila. O efeito major do álcool em mim, fato o qual qualquer amigo ou conhecido pode comprovar, é o ímpeto pela socialização (e contabilizo um aumento de 300% desse efeito em albergues/terras estrangeiras), nunca então que eu teria a capacidade de ver inúmeras pessoas tomando uma vodka na mesa ao lado e não ir realizar algo como uma troca de bêbidas, informações e outras coisas(ná!). Bom, o efeito dos destilados em grupos de pessoas conversando provavelmente é bem conhecido por qualquer um que esteja se prestando a ler esse texto (seja por experiência própria ou por notares como as pessoas estão se divertindo enquanto ficas no canto, twittando pra ninguém...!), então obviamente não preciso (até porquê eu não conseguiria) explicar como se desenrolou o resto do começo da noite (talvez algumas marcações da minha pessoa em fotos de estrangeiros no facebook me ajudariam a explicar, e pensando agora, vou anexar, pra ilustrar o momento), mas de alguma forma, de repente tinham inúmeros uruguayos no albergue, e mais de repente ainda estávamos em um grupo de umas 20 pessoas andando (levemente cambaleantes) pelas lindíssimas ruas da Ciudad Vieja montevidense, dentre os quais, apenas um dos três amigos iniciais (Eneko Arrondo: espanhol, feliz e péssimo dançarino), o qual se mostrava extremamente apreensivo, principalmente quando eu contei pra ele que os "guias" uruguayos estavam errando o caminho pra festa, de acordo com o traço preciso que o mapa turístico amassado e praticamente extraviado, no meu bolso, indicava, atravessando sem dó os numerozinhos que figuravam lugares que não vim a entrar. No momento, pensei, "foda-se" "dane-se" , me perder não vou, tenho um mapa (gênio!), foi quando resolvi usar de toda minha habilidade social cara-de-pau pra pedir pra dar uma volta no skate de um dos uruguayos (eu sei que eu não tinha citado antes, mas o cara tava levando um long board pra festa...). Subi naquela prancha, levemente alcoolizado, e comecei a descer as maravilhosas ruas inclinadas. Outro efeito o qual provavelmente muitos conheçam do álcool, é que em determinado momento ele te deixa extremamente pensativo e atento a detalhes...
A maravilhosa Absolut Pears
Exatamente nesse momento, nas primeiras embaladas, a medida que as vozes falando espanhol se distanciavam de mim, estalou algo dentro de mim, comecei a admirar a beleza da rua, com o glamour das construções antigas (passando em uma velocidade possivelmente perigosa por mim), beiradas por uma linha em cada lado da rua de árvores com folhas a rarear (devia ser inverno), com suas copas inclinadas ao meio da rua, por onde eu passava voando. Perante aquela visão que me fazia lacrimejar (era o vento batendo no olho), pensei comigo mesmo que eu estava conhecendo as ruas da ciudadela de uma maneira que possivelmente nenhum turista veio a conhecer, em cima do skate de alguns uruguayos, em plena madrugada, e sinceramente, devo dizer que todos deveriam tentar conhecê-la assim, o sentimento foi realmente inexplicável (se não souberem andar de skate, tentem simular a velocidade, correndo), eu não estava apenas visitando a cidade, fiz parte dela, mesmo que por alguns momentos, me fiz conhecer (até porquê não deve ser difícil de lembrar do brasileiro aleatório que pediu o long e saiu insano descendo ruas desconhecidas, de noite!). Imagino que essa seja a diferença entre um viajante e um turista.

Apesar do sentimento bom, não é muito comparado com o pensamento que tive ao chegar no albergue, olhar pela janela do mesmo e ver o sol nascendo, olhar pra baixo e ver as pessoas começando seus dias de trabalhos, e olhar pra trás e lembrar o desenrolar da noite maravilhosa, a qual só teve aquele desenrolar, pelo simples fato de eu ter conversado com as pessoas da mesa ao lado. Com essa visão e esse pensamento ocupando minha mente, foi naquela sacada, naquele nascer do sol, que eu percebi do que eu era feito, pra o que eu fui feito e como eu pretendia viver o resto da minha vida, foi como amadurecer anos em um segundo. As viagens que antes eram algo que eu pretendia fazer o resto da minha vida, se tornaram, de repente, a essência da minha vida. Ainda sou novo e simplesmente estou construindo o modo como pretendo viver, mas desde então, vivo cada dia sabendo exatamente como devo viver, e nunca me perdoaria de não perseguir isso.